Trabalho remoto: passado, presente e futuro

Os pilares para decisão de qual é o melhor modelo de trabalho

Diego Martins Pereira
6 min readJun 24, 2021

A cinco anos atrás, após uma demissão e um rápido intercâmbio, eu me desliguei da empresa na qual trabalhava para me dedicar a projetos pessoais, empreender. Naquela época o home office era o sonho de consumo de muitas pessoas e começava a ser adotado de forma tímida por algumas empresas.

Eu, então dono do próprio nariz e responsável por muitas contas a pagar, tive a benção de viver esse sonho de consumo do trabalhador brasileiro: trabalhar na minha própria casa.

Passado

Iniciando essa nova fase da minha vida, em 2016 (4 anos a.c. = antes do Covid), descobri que o sonho do “trabalhe em casa” não era tão colorido quanto imaginava e tive uma amostra grátis dos problemas que bilhões de pessoas ao redor do mundo enfrentariam a partir de março de 2020.

A primeira dificuldade foi relacionada a gerência do tempo. Esse que parecia passar mais rápido, me dava a sensação de que por mais que eu trabalhava, nunca era possível fazer tudo o que planejava. No meu dia a dia, não existia mais aquela sensação de sentir-se produtivo só pelo fato de chegar ao escritório as 9h em ponto. A sensação de ter que fazer meu tempo render para produzir mais as vezes era desesperadora. Logo aprendi os princípios do Método Pomodoro que foi o primeiro passo para evolução do autogerenciamento e aumento da produtividade.

Fonte: MIT Technology review

Falando em produtividade, esta semana o MIT Tech Review Brasil lançou o novo episódio de seu podcast: Tecnologia como meio para o aumento da produtividade.
A tecnologia sozinha não promove transformação, mas ela faz parte do processo.”

Depois percebi que o simbólico ritual de abaixar a tela do notebook e despedir-se dos amigos no escritório, também fazia muita falta. Esse hábito me desligava (em partes) dos problemas das horas úteis e assim eu conseguia focar em resolver as questões pessoais a noite e reiniciar a mente para o dia seguinte.

Aos poucos a solidão também começou a bater. Como dizem: “Empreender as vezes é uma jornada solitária”. Minha rotina ao acordar era: trocar de roupa (hábito essencial), tomar um café, me despedir da esposa que saia para trabalhar de manhã, ir para o escritório improvisado dentro de casa e as vezes almoçar correndo na frente do computador.

A lista de atividades era gigantesca e em um piscar de olhos já era noite, a esposa chegava novamente em casa e lá estava eu, na mesma cadeira, mesma posição. Aquilo que todos achavam um sonho, para mim foi melancólico. Não havia um bom dia, boa tarde, um café, um bate papo descontraído. Afinal, são nos momentos de descontração em que socializamos.

Essa rotina não me fazia bem e diante desse cenário eu precisava investir parte da minha ainda modesta renda em um coworking. Era isso ou voltar a buscar um emprego convencional e assim seria o fim prematuro da minha tentativa de voo solo. Tudo isso em prol da minha saúde mental.

Eu precisava de um lugar para conversar, dar bom dia para as pessoas, ajudar, colaborar, … Isso fazia falta e esses momentos simples que nos fazem ter ideias inovadoras.

O coworking realmente trouxe tudo o que me faltava e isso me deu um gás extra para enfrentar as dificuldades da rotina diária. De acordo com a necessidade, eu revezava as idas no espaço compartilhado quando precisava de mais inspiração, com dias em que ficava em casa quando necessitava mais de concentração. Ali começava a perceber as vantagens do modelo híbrido.

Diante da necessidade de estar cercado por pessoas, ingressei no Co.W (Para mim, o melhor coworking de SP). Conheci pessoas e empresas fantásticas. Saúde mental acima de tudo.

Presente

Com o aumento dos casos de Covid-19 em meados de março de 2020, a então desconhecida quarentena começava a ser falada e rapidamente foi imposta pelo governo.

Do dia para a noite, o mundo precisou aprender a trabalhar de forma remota. Todos aqueles problemas que eu havia enfrentado 4 anos antes, seriam agora compartilhados com todo o mundo e para piorar, envolto a um cenário de pandemia mundial.

21/03/2020: Anúncio da quarentena no estado de São Paulo.

A indesejada experiência prévia que tive ao trabalhar de casa junto ao cenário de caos me fizeram temer os dias que estavam por vir. Me imaginar, novamente, no mesmo quartinho/escritório de casa, me dava calafrios. Realizei diversas mudanças no ambiente para garantir que a nova experiência remota fosse diferente da anterior. Dessa vez não me sentia mais sozinho. Talvez, por poder compartilhar a dificuldade com todos que agora passavam pela mesma situação. Todos os hábitos que eu havia adotado anteriormente, focados em produtividade, me ajudaram muito nessa nova experiência que foi mais satisfatória.

Da mesma forma que eu tive experiências diferentes durante esses dois períodos de trabalho remoto por qual passei, deve-se considerar também a realidade de cada um para entender suas necessidades e ponto de vista a respeito deste assunto.

Enxergar essa discussão de vários ângulos facilitará o entendimento de todos que se dividem em acreditar nesses três modelos de trabalho para o futuro:

  • Modelo 100% remoto
  • Modelo híbrido
  • Modelo 100% presencial

Futuro

Muitos falam que o trabalho 100% remoto veio para ficar. Pesquisas indicam um aumento de produtividade neste modelo, as vezes em detrimento da saúde. Como tudo na vida temos que avaliar as vantagens e desvantagens de cada ponto.

Época Negócios - Maio/2021: A produtividade é um dos principais argumentos para o trabalho remoto, em contrapartida por mais que as pessoas estejam trabalhando do conforto de suas casas isso tem causado uma sensação de exaustão.

Com o avanço da vacina mundo a fora, a vida começa a dar sinais que voltará ao normal e já podemos enxergar os mais distintos movimentos que as empresas estão tomando. Temos startups destrutivas optando pelo modelo 100% presencial da mesma forma que empresas tradicionais escolhem o modelo 100% remoto.

O professor Mark Mortensen do INSEAD Executive Education acredita que as empresas devem tomar a decisão de qual modelo de trabalho devem adotar baseadas em três pilares: produtividade, atração de talentos e cultura corporativa. O trecho abaixo, extraído da última edição da revista Época Negócios, é o resumo mais sucinto do que eu acredito que deve ser considerado nessa tomada de decisão.

Época Negócios — Maio/2021: O futuro será híbrido.

A contratação de profissionais de tecnologia já era desafiadora no período pré-pandemia e levando em conta o ponto de vista do professor Mortensen, a situação de empresas que trabalham somente no modelo 100% presencial piorou porque o número de candidatos que aceitam somente vagas de trabalho 100% remoto tem aumentado.

Pensando em produtividade isso não seria um problema. Do ponto de vista de cultura, poder observar mais de perto pares e até mesmo a liderança pode, em alguns casos, reforçar as culturas corporativas e de colaboração e acelerar o crescimento do profissional dentro da empresa. Porém, para essas empresas que abominam o trabalho remoto, vale repensar e refazer a estratégia focando na atração desses talentos.

Do outro lado, fazendo um link com o primeiro artigo em que escrevi (Tecnologia na veia), onde incentivo o desenvolvimento das skills de negócio para os profissionais técnicos, é recomendável que olhem também com mais carinho para os benefícios do presencial. Um pote de ouro está escondido envolto as interações casuais que só os encontros presenciais podem oferecer.

E para você, qual modelo funciona melhor?

Complemento

Fonte: StartSe

Do Mundo VUCA ao BANI

A pandemia nos trouxe um novo contexto mundial:
A fragilidade da lugar a volatilidade, a incerteza é substituída pela ansiedade, a complexidade pela não-linearidade e a ambiguidade pela incompreensão. Veja mais

--

--